segunda-feira, 27 de abril de 2009

O menino atrás da árvore

Esses dias tava passando de carro por uma grande avenida, que começa no centro e termina na praia. Era uma descida. No meio-fio, do lado do motorista, havia uma árvore não muito alta, nem muito larga, de forma que percebi "algo" se mexendo atrás dela. Acelerei, mas virei o rosto para ver o que era 'aquilo'. Aquilo era um menino negro, pouco mais de 1,50m e que aparentava ter uns 8 ou 9 anos de idade. Ainda que tenha percebido tudo isso a 80km/h, impressionante foi notar a mão esquerda dele fechada embaixo da blusa, como que escondendo algo.E realmente estava.
O pirralho rapidamente abriu a mão, desenrolou um chiclete e colocou na boca. Esperou o carro que eu dirigia passar, e desatou a correr com os braços abertos, aproveitando a descida para ganhar velocidade na forma flinston de se deslocar: com os pés. O sorriso que vi pelo retrovisor, a alegria, a liberdade daquele pirralho, me fizeram divagar no ramo da filosofia existencial. Afinal, eu, dentro de um carro confortável, com ar-condicionado e direção hidráulica, estava muito menos alegre e livre do que aquele favelado com cara de fome.
Provavelmente, a diferença entre nós dois é somente uma, e ela passa longe de poder aquisitivo ou local de moradia: para ele, eu fui só mais um carro de vidro fumê que passou acelerando quando o viu, mas, para mim, ele foi aquele que mudou minha forma de ver o mundo, apenas com um sorriso. Depois disso, pequenos momentos tornaram-se muito especiais. Preciso ter sempre em mente que não é o dinheiro que trás felicidade. E, com o detalhe de um reflexo de espelho, o mundo magicamente mudou. Para melhor.

Um comentário:

  1. Amei o texto todo e o trocadilho "Forma flinston de se deslocar"...Ainda na forma gessingeriana de pensar cito "Você que tem idéias tão modernas , é o mesmo homem que vivia nas cavernas"...Somos? Acho que somos, nossos maiores encantos estão nas menores coisas, nas descobertas que já foram descobertas. Sei que se mil vezes olhar o mar, mil vezes se encantará. Nós só sentimos verdadeiras felicidade, com as coisas mais simples, por incrivel que pareça,e ainda assim passamos nossa vida inteira correndo atrás da falsa-felicidade...Somos ou não homens das cavernas?

    Xeru!

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