terça-feira, 28 de setembro de 2010

Morte. Independência?

Sete e meia da manhã. Do sete de setembro. Dirijo o carro que me leva à Av. Beira Mar, é o desfile cívico-militar da independência. Dom Pedro gritou “Independência ou morte!”, me ensinaram no Colégio, mas tudo que vejo, no dia da independência, é morte. Morte da música, que perdeu espaço nas rádios para os estrangeiros. Morte da política, que se vende à corrupção. Morte do povo, que sucumbe à fome.

São oito horas da manhã. No sinal, um menino pequeno e magro estende a mão em gesto de súplica, apelando à nacionalidade para conseguir alguns trocados. Alguns semáforos à frente, outro menino, tão magro quanto o primeiro, estende uma perna mal formada, jogando na cara a falta de oportunidade de alguém que está cansado de não viver. Definitivamente, o sete de setembro não é o dia da independência.

São oito e meia da manhã. É ano eleitoral e os militantes dos candidatos a governador se misturam à multidão que vai acompanhar o desfile. Militantes, em sua maioria, tão pobres quanto os meninos dos semáforos. E tão cegos quanto o candidato que defendem, pois passam por outros meninos que estão em outros semáforos e fingem não vê-los. A alegria ufanista que contagia a todos, cega à realidade que dá um tapa na cara. Independência? Só se for de Portugal. A dependência continua com os latifundiários, empreiteiros, lobistas, empresários, banqueiros, políticos.

É sete de setembro. É dia da independência. E tudo que se vê são policiais. Soldados. Forças armadas com traje de gala. Alunos com uniformes limpos e passados, câmeras fotográficas e filmadoras para todos os lados. Alegria de um povo que não vive, apenas aguenta viver. E que, de quatro em quatro anos, vê a independência com esperança de mudança, ouvindo as mesmas histórias e conversas sobre educação, emprego e segurança. Independência? Ou morte?

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